Precisamos falar sobre Carolina Maria de Jesus

Nada mais valioso que enaltecer mulheres que fizeram história... E na busca por elas, me deparei com Carolina Maria de Jesus. Mulher, negra, mãe solteira de três filhos, catadora de papel e favelada, ela foi uma das primeiras escritoras brasileiras.

Nascida em Sacramento (MG), no ano de 1914, e filha de pais negros e analfabetos, Carolina teve seu primeiro contato com a escola aos sete anos, onde aprendeu a ler e escrever. Na idade de 33 anos, se mudou para São Paulo, desempregada e grávida. A vida da cidade grande levou nossa protagonista ao ofício de catadora de papelão. Leitora voraz de livros que encontrava no dia a dia, ela iniciou o hábito de escrever. Numa espécie de diário, registrava a vida árdua na favela do Canindé, suas emoções e enfrentamentos pessoais.

Esses registros chegaram até o jornalista Audálio Dantas, que conheceu Carolina enquanto fazia uma reportagem na favela, e se transformaram no conteúdo do primeiro livro da escritora, publicado em 1960 e intitulado “Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada”. O alcance foi gigantesco. Na primeira semana de publicação, 10 mil cópias foram vendidas e mais de vinte línguas tiveram o livro traduzido, chegando a Europa, Ásia e América Latina. Apesar de tamanho sucesso, Maria Carolina de Jesus chegou a publicar outros livros, mas logo caiu em esquecimento e morreu em 1977, de insuficiência respiratória.

Por que falar sobre Carolina? A respostas é simples. Sua força deixou um legado que deve ser relembrado e abraçado como inspiração. Uma escritora improvável, que se desapropriou de todo destino miserável, escolheu viver o poder da leitura e expos a realidade da mulher negra e pobre, em um país dominado pelo ódio às minorias.

Indicações do Rodapé: link de um vídeo no Instagram @bgvls - Beatriz Veloso: IGTV “Carolina Maria de Jesus e o poder que brota da escrita”

Por Maria Luiza Soares

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